DAOs: o novo modelo de organização descentralizada | Blog Arquivei
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Publicado em

janeiro, 2023

Escrito por

Bruno Sanches

DAOs: o novo modelo de organização descentralizada

As DAOs são inovações organizacionais que se baseiam na autonomia, participação e democracia no ambiente de trabalho. Saiba mais:

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Talvez você ainda não tenha ouvido falar das Organização Autônoma Descentralizadas (DAOs – Decentralized Autonomous Organization), mas elas crescem exponencialmente. Entre janeiro e setembro de 2021, o valor total gerado pelas DAOs saltou de US$ 380 milhões para US$ 16 milhões, somente em uma plataforma. 

As DAOs são diversas. Em 2021, uma DAO tentou, sem sucesso, arrematar a constituição dos Estados Unidos por US$ 30 milhões. Outra DAO formada por ex-jogadores do Manchester United levantou US$ 4 bilhões para adquirir o time de futebol americano Denver Broncos.

Mas o que, de fato, são DAOs?

DAOs são novas estruturas organizacionais autônomas que utilizam tecnologias de computação descentralizadas (como o blockchain) para tomar decisões automatizadas. 

Normalmente, DAOs são formados por grupos de pessoas que possuem algum interesse comum – comprar times de futebol, por exemplo. Do ponto de vista de um contador, uma DAO seria algo como uma Entidade Legal Separada (LLC), porém, é formada por um grupo de pessoas que pode estar em qualquer lugar do mundo e as decisões são tomadas coletivamente de acordo com os tokens digitais que cada indivíduo possui. 

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1. O que são DAOs e como elas surgiram?

As DAOs fazem parte da nova economia da Web 3.0. Como veremos a seguir, são inovações organizacionais possibilitadas pelas automatizações das tecnologias descentralizadas, e são baseadas nos princípios de autonomia, participação e democracia no ambiente de trabalho.

1.1 Por que DAOs? Um novo modelo organizacional

Organizações são uma das mais importantes inovações humanas. Mas os modelos organizacionais que conhecemos estão estabelecidos há tanto tempo que raramente nos damos conta da sua influência nas relações sociais e econômicas.

A princípio, as organizações criam espaços de recursos compartilhados em que pessoas com um propósito em comum poderiam trabalhar e cooperar. O propósito de uma organização pode ser tão diverso quanto produzir um carro ou salvar o meio ambiente, mas cada organização possui um objetivo específico.

E quem define esse propósito? Quem trabalha em uma organização concorda com os seus propósitos?

As pessoas em uma organização raramente concordam com um mesmo propósito. Portanto, uma organização precisa de um líder – uma figura central – para apontar os caminhos que a organização deverá seguir. 

Esse líder, ou conjunto líderes da organização, representa a visão que deverá ser incorporada pelos demais participantes. Definem, por exemplo: o que será produzido? Como produzir? Para quem vender?

Por isso, o modelo organizacional predominante se tornou hierarquizado. A figura de um chefe que centraliza a tomada de decisões é essencial nesse contexto, pois o processo democrático dentro de uma organização pode se tornar lento e burocrático, impedindo uma organização de prosperar em ambientes competitivos.

Contudo, até aqui já é possível notar que esse modelo hierarquizado restringe a criatividade e subaproveita o talento de muitos profissionais. Boas ideias, mas que divergem da visão do líder da organização, podem ser simplesmente descartadas. Além disso, o modelo hierarquizado de organização restringe a autonomia do trabalhador e gera grande concentração de renda.

Portanto, pode-se dizer que o modelo hierarquizado de organização não é o mais eficiente. Apesar disso, é o modelo encontrado para lidar com a necessidade de tomar decisões rápidas, mesmo que para isso o conhecimento coletivo e os desejos dos demais indivíduos sejam ignorados.

Por sua vez, as DAOs são soluções tecnológicas e sociais que buscam repensar os modelos de organizações hierárquicas, abrindo espaço para a concepção de modelos mais democráticos e participativos. 

Como já mencionado, as DAOs surgiram na esteira de inovações da Web 3.0, como blockchain e ativos digitais. Inclusive, como detalhado a seguir, as DAOs estavam inicialmente restritas aos entusiastas da tecnologia, porém elas vêm conquistando cada vez mais profissionais das mais diversas áreas.

1.2 Como as DAOs surgiram?

O significado de DAO remete a um conceito similar chamado de DAC ou Decentralized Autonomous Company (Companhia Descentralizada Autônoma), que surgiu nos primeiros fóruns de criptomoedas. 

Entusiastas das criptomoedas e tecnologias descentralizadas imaginavam que as novas tecnologias da Web 3.0 poderiam possibilitar um modelo de governança que utilizasse ações tokenizadas para gerar rendimentos para seus acionistas. 

O conceito de DAO, como conhecemos hoje, tem como berço a comunidade do Ethereum, a segunda maior plataforma de blockchain descentralizada pensada por Vitalik Buterin e administrada por uma comunidade de desenvolvedores e usuários. Ethereum é a plataforma que alimenta o éter (ETH), a segunda maior criptomoeda em valor de mercado, em que operam milhares de aplicativos descentralizados.

Por outro lado, ainda não existe um consenso sobre o uso do termo DAO. Diversos grupos utilizam o mesmo termo com significados diferentes. Mas é possível entender a essência de uma DAO ao especificar o significado de cada inicial que dá origem ao seu acrônimo.

1.2.1 D de descentralizada ou distribuída

Em uma DAO não existe um ponto central de controle. Os controles e a governança de uma DAO são descentralizadas – ou distribuídas, como veremos a seguir – entre os membros da organização. Portanto, não há interferência de uma autoridade central. 

Assim, as DAOs são essencialmente organizações horizontais, em que as pessoas tendem a se engajar em um processo de benefício mútuo, buscando vantagens compartilhadas.

Para alguns especialistas, as DAOs são distribuídas, e não descentralizadas. É importante destacar que, apesar de certa controvérsia, essa distinção representa uma inovação organizacional de grande potencial transformador. 

A diferença entre uma governança distribuída e descentralizada é que na primeira não há pontos (ou nós) centralizadores. Por sua vez, em uma organização descentralizada também não há um ponto central de controle, mas ainda existem pontos intermediários com os quais os demais membros se sujeitam. 

Já em uma organização distribuída, todos os pontos podem se comunicar diretamente e não há nenhuma hierarquia entre eles. Nesse sentido, é um modelo mais próximo de uma organização inteiramente horizontal.

1.2.2 A de autônomo ou automatizado

As DAOs são entidades autônomas operadas por meio de códigos automatizados. Elas são autônomas porque funcionam de maneira independente, sem influência de agentes externos. A autonomia, nesse caso, refere-se a um posicionamento ideológico acerca do modelo organizacional.

Mas, para funcionar de forma distribuída e autônoma, as DAOs operam por meio de códigos de contratos inteligentes que rodam em redes de blockchain. Esses contratos inteligentes têm a capacidade de executar funções automatizadas, como a liquidação de um bem, o pagamento de recursos após a prestação de serviço e organizar votações entre os membros da DAO.

1.2.3 O de organização

Por fim, uma DAO é uma entidade constituída como organização. Apesar de não haver normativos jurídicos que contemplem o modelo das DAOs, elas são entidades formadas por grupos de pessoas com um propósito específico e mobilizam recursos para esse fim.

Algumas DAOs podem ter propósito de lucro, mas não é sempre assim. Muitas têm propósitos sociais ou ativistas, buscando realizar transformações em áreas de interesse comum.


2. Quais são as vantagens e desvantagens de DAOs?

As DAOs trazem uma série de vantagens e desvantagens para os seus membros. Apesar do interesse crescente acerca desse tipo de organização, ele não é adequado a qualquer tipo de negócio ou perfil profissional. 

Assim, a seguir confira as principais vantagens e desvantagens que você deve avaliar antes de criar ou entrar em uma DAO.

2.1 Vantagens

  • Mais transparência: as DAOs são essencialmente mais transparentes. Todas as decisões, os participantes e a mobilização de recursos são registradas publicamente em redes de blockchain. 

Apesar de públicas, as informações podem ser anônimas. Por exemplo, pode-se saber o código de identificação de carteira responsável por determinada transação, mas não quem é o proprietário dessa carteira. Assim, uma DAO aumenta as possibilidades de acompanhamento da organização, sem expor seus membros.

  • Mais democráticas e acessíveis: qualquer um pode participar e ter voz em uma DAO. Como não há posições hierárquicas, todos na organização têm a mesma influência. 

Isso possibilita uma maior distribuição de recursos e poder entre os seus participantes. Além de abrir espaço para que pessoas de diferentes lugares se reúnam em torno de um propósito específico.

  • Mais automação: uma vez estabelecidas, os contratos inteligentes de uma DAO possibilitam que a organização funcione sozinha por meio da execução automatizada dos contratos. 

Portanto, essas organizações possuem operações mais baratas, e as controvérsias entre diferentes perspectivas são resolvidas através da execução dos códigos estabelecidos nas plataformas blockchain.

2.2 Desvantagens

  • Atrasos na tomada de decisão: se por um lado uma DAO promove a participação democrática em uma organização, a necessidade de se obter a votação de todos os membros da organização pode atrasar certas decisões.

Mesmo o processo de votação sendo automatizado e podendo ser feito de qualquer lugar, alguns membros podem atrasar a votação, deliberadamente ou por desatenção, impedindo que uma decisão seja tomada tempestivamente.

  • Difícil de solucionar problemas técnicos: a automatização das DAOs também impõe uma complexidade tecnológica às organizações. Uma vez que o código foi implementado, torna-se muito difícil alterar ou corrigir problemas decorrentes.

Essa dificuldade em alterar o código de uma DAO é importante para trazer previsibilidade e consistência para organização, mas, ao mesmo tempo, dificulta a correção de possíveis problemas.

  • Questões legais: a classificação legal das DAOs ainda é incerta e pode ser diferente em cada jurisdição. Isso causa uma insegurança jurídica para esse modelo de organização e torna difícil o trabalho de contadores e advogados que precisam lidar com as questões legais das DAOs. 

As primeiras DAOs reconhecidas como entidades legais surgiram em 2021, portanto, o entendimento sobre os desafios legais das DAOs ainda é muito recente. 

Muitas questões ainda devem surgir, assim, governos e profissionais que serão impactados por esses novos modelos organizacionais precisam aprender a lidar com esses desafios e propor mudanças regulatórias condizentes com a inovação do mercado.


3. Alguns exemplos para se inspirar

Qualquer negócio pode se tornar uma DAO. Mas os segmentos da economia do conhecimento ou da economia criativa em geral e serviços ou produtos que podem ser prestados ou consumidos através da internet, são os que mais se beneficiam do modelo. 

Abaixo estão listados alguns segmentos que podem se beneficiar do modelo de DAOs.

3.1 DAOs de Consultoria

Consultorias vendem conhecimento. Devido à importância da mão de obra para esse tipo de serviço, no modelo organizacional das consultorias os profissionais que alcançam o topo da carreira se tornam sócios da organização. 

Em uma DAO consultoria, todo membro da organização é um sócio e pode opinar nos rumos da organização, além de receber os lucros proporcionalmente a suas contribuições. 

Além disso, os custos de estruturas, marketing e base de clientes podem ser compartilhados, de forma a otimizar recursos e possibilitar investimentos mais altos, o que não seria possível para consultores individuais ou pequenos escritórios.

3.2 DAOs de Escritório de Arquitetura

Escritórios de arquitetura pequenos têm dificuldade em contratar arquitetos, pois a demanda pode ser inconstante e os profissionais que possuem autonomia para executar o trabalho podem ser custosos. 

Por sua vez, em uma DAO, todos os profissionais trabalham para a mesma organização, mas mantêm a independência e são remunerados de acordo com a sua contribuição para o coletivo.

Profissionais de todos os níveis de experiência podem fazer parte da mesma estrutura e, por meio dos contratos inteligentes, receber os valores atrelados à prestação do serviço. Esses valores podem ser estipulados em acordo comum entre todos os membros da organização e pago automaticamente. 

Uma DAO de arquitetura também pode comprar máquinas e softwares compartilhados, que requerem muito investimento, podendo até mesmo competir com grandes escritórios estabelecidos no mercado.

4. DAO é o futuro

Conforme detalhado ao longo deste artigo, as DAOs são novos modelos organizacionais autônomos e descentralizados ou distribuídos. Inicialmente, as DAOs ganharam destaque entre os entusiastas das Web 3.0, mas agora ganham o mundo e passam a ser encontradas em diversos setores.

Em oposição aos modelos organizacionais tradicionais que são hierarquizados, as DAOs são modelos democráticos e horizontais, baseadas no compartilhamento de recursos e na cooperação entre pessoas com objetivos comuns. 

Apesar de ser um fenômeno recente e em construção, as DAOs ensejam muitos desafios e oportunidades. Podem ser uma boa alternativa para profissionais que trabalham na economia do conhecimento ou na economia criativa. Além disso, promovem um modelo mais justo e participativo para esses profissionais.

No entanto, as DAOs ainda são tecnologicamente complexas de serem implementadas e mantidas. Da mesma forma, o reconhecimento legal e a regulamentação dessas organizações ainda é um desafio por vir.

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